Por Gabi Hoover
Outro dia, perguntei para as pessoas que me acompanham no Instagram se elas sabiam a definição da palavra “estereótipo”. Fico feliz em informar, que das pessoas que responderam, todas, de uma forma ou de outra, acertaram.
De modo geral, estereótipo é uma ideia preconcebida sobre algo.
Trocando em miúdos pra citar alguns exemplos de estereótipos que me afetam diretamente: a "fama" que a mulher brasileira tem no exterior; ou a ideia de que ser feminista significa ser desprovida de vaidade; ou, ainda, a crença de que caipira é uma pessoa sem cultura ou intelecto. Acho que você captou o espírito da coisa.
De alguma forma, eu acredito que esses estereótipos criados pela sociedade estejam diretamente ligados às nossas perspectivas de identidade. E por isso, resolvi que precisava falar sobre isso aqui.
Eu não me encaixo nos moldes e sofro com essa questão de identidade. E algo me diz que você, lendo isso, também esbarra nesses questionamentos vez ou outra.
Eu sei quem eu sou na fila do pão. Mas como os outros me enxergam depende muito do olhar de quem está me vendo ali parada. E se por um lado eu não me importo com o que “os outros pensam sobre mim”; tem um outro lado meu que se importa sim, e vive se justificando por ai.
Veja você: eu vivo no meio de uma floresta e não pinto mais meus cabelos; sou feminista, motociclista, jornalista, e tatuada. Eu sou latina-brasileira e norte-americana.
Agora, na realidade onde eu vivo, meu marido, que é gringo, não acha que brasileiros e latinos se enquadram na mesma categoria (assim como muita gente brasileira também, viu). Eu também diria que uns 90% dos meus familiares descreveriam uma mulher com minhas características como "uma hiponga mal amada e mal cheirosa". E adivinha só: todos eles estão errados.
Meu sangue latino
Brasileiros são latino-sul-americanos. Não fazemos parte da América Hispânica, mas latinidade está ligada às origens da nossa língua. E português é uma lingua derivada do latim, assim como espanhol, e por isso somos latinos.
“Rompi tratados e trai os mitos”.
Ainda bem que lá atras na minha história, eu tive coragem de quebrar os moldes. Mas não foi fácil. E, pensando retrospectivamente, a parte mais difícil era quebrar com essas ideias preconcebidas com as quais eu fui criada. Me permitir ser o que, de certa forma, me soava caracterizado, pra não dizer errado.
O problema é que na vida real, nem todas nós conseguimos quebrar esse ciclo. Nem todas conseguimos olhar para além do muro. Talvez por isso, coisas como “gente tóxica” e “cancelamento” tenham viralizado.
Representação
Fechamos esse mês de Abril 2021 com uma história incrível que traz uma personagem e uma reflexão sobre a importância das mulheres na política. Também destacamos outra oficina mecânica de mulheres, e a união das pilotas de scooter. Nesse mês, tivemos a Bruna testando as gigantes da BMW; e a nossa jovem Ana dando início ao seu Diário de Habilitação.
Mulheres que pavimentam a estrada, quebram os moldes, rompem com os estereótipos e desafiam a sociedade para criar um ambiente mais justo e acolhedor pra todos.
Representação trata-se de assumir o protagonismo na história. E é exatamente isso que fazemos por aqui.
Porque se é pra ficar presa a um estereótipo eu escolhi que o meu seja o da badass*.
E você?
* Badass:
A palavra em inglês “badass” (aqui no estado de NY pronunciamos assim: béréss) é comumente usada pra definir mulheres motociclistas. Assim como, aqueles que quebram paradigmas, estereótipos, e vivem sua vida sem dar muitas explicações à sociedade. Na linguagem americana, a palavra faz parte do repertório informal, e tem origem na junção de Bad (mau/má) e Ass (que traduz em português para jumento ou mula, e também é gíria para bumbum). Ao pé da letra, em português, badass deveria traduzir jumento/mula teimoso/a; ou ainda bumbum mau. Com o passar do tempo, e por apropriação da linguagem, badass virou substantivo e/ou adjetivo para uma pessoa que é corajosa, descompromissada, intimidadora, formidável, impressionante, e excelente. (trecho extraído do meu texto para o Diário, aqui no #ElasPilotam)
Infelizmente isso ainda é muito comum no nosso mundo. Menino usa azul, menina usa rosa, homem não chora e por ai vai. Acredito que essas barreiras que vc rompei inspirou muitos a tomarem iniciativas de mudarem tb. Parabéns pelo artigo, muito top.