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Em tempos de “cancelamento”, uma reflexão sobre afeto

Por Bruna Wladyka


Esses dias eu li a seguinte frase:

“Afeto é a cola para quebrados pedaços.”

Me fez pensar em como temos quebrados pedaços e como precisamos de cola (afeto) para lidar com eles. Ou, ainda, como precisamos ser a cola para tantas pessoas ao nosso redor.

Mas o mundo virado e as pessoas estão confundindo tudo. Esquecem que o afeto de verdade só se torna bom se vem carregado de respeito. Respeito por quem e o que somos: pela nossa história, pela nossa vivência, pelas nossas escolhas e desejos. De nada adianta você querer receber, ou dar afeto, se estiver fechado para apenas suas razões e opiniões.


E quantas vezes recebemos afeto que no fundo não passa de mais uma forma de repressão? Ou então, quantas vezes estamos dando afeto, mas no fundo queremos que a pessoa se molde de acordo com o que queremos?


Não posso negar, esse assunto, mesmo que necessário em qualquer momento, caiu como uma luva depois de acompanhar as últimas trendtags sobre o reality show do momento. Algo que se tornou gatilho para tantas pessoas e, ao mesmo tempo, trouxe à tona uma revolta imensa, um sentimento de injustiça, e de raiva. Mas aí, observando os mais diferentes perfis que estão se posicionando, percebemos que as pessoas estão julgando e condenando os tais “canceladores” da mesma forma que eles têm feito com os mais vulneráveis dentro da "Casa".


Já parou pra pensar que é assim que a humanidade caminha ao longo dos tempos?

Defendemos uma pessoa que está sendo reprimida, reprimindo o opressor e, assim, acabamos virando um opressor igual.


Wow, calma aí que deu um nó na cabeça!


É isso mesmo, de nada adianta querermos mudar o mundo, levarmos o título de justiceiro digital tomando as mesmas atitudes que o lado errado tomou. Agindo assim, contribuímos apenas para que a roda continue a girar sempre na mesma direção.




Te convido a refletir sobre isso também. Com certeza, mas certeza mesmo, você aí que está lendo essa carta aberta já se sentiu cancelada, injustiçada, reprimida, com medo, sem voz, desesperada. Mas também, já acusou, criticou, fofocou, reprimiu, ofendeu, disputou.

“Ahh, mas gente isso é do ser humano, todo mundo é assim, não dá pra mudar.”

Pois é, mas se o que buscamos é transformação, então temos que ser ela.



Penso que todos esses sentimentos e ações são impostos a nós ao longo da nossa criação e educação, desde criança em casa, na pré escola. Aí, alguns se tornam mais vulneráveis e suscetíveis a agressões e outros arrogantes e dominadores onde quer que estejam. Lembra do aluno que era o espertão da turma? Lembra da aluna mais bonita da sala? Lembra de todo bulling que passou ou viu seu colega da mesa ao lado passar?


Canceladores e cancelados existem há tempos. Mas será que ambos não precisavam e precisam de afeto? Ambos são tão carentes que mesmo em seus extremos possuem o mesmo espelho. Estão na busca constante de aprovação, de auto afirmação, de amor, de afeto. Porém em muitas vezes um leva a fama de coitadinho e o outro fica como metido, arrogante, prepotente que ninguém mais quer chegar perto. E todos possuem, no fundo, um problema em comum, o sentimento do menosprezo.


Bom, voltando ao afeto… Você já pensou em como um vaso quebrado quando é colado corretamente pode receber flores novamente. Mas se um pedaço for colado errado, o vaso pode vir a quebrar e, talvez, nunca mais seja igual. Nunca mais consiga manter uma flor dentro dele?



Conosco também é assim. O afeto pode reconstruir ou destruir uma pessoa. Precisamos receber afeto mas também precisamos saber distribuir. Esperamos do outro aquilo que não fazemos. Falamos em empatia mas o que está sendo visto é a rivalidade na sua forma mais cruel. Falamos em trocar experiências e o que acontece é competição e disputa. Quem faz mais? Quem conhece mais? Quem sofreu mais? Quem, quem e quem.


Defendemos a vulnerabilidades de uns, julgamos a arrogância de outros, invejamos a tranquilidade de muitos. Mas será que estamos vendo o certo? Será que as pessoas estão transmitindo a verdade? Lembre-se que na vulnerabilidade existe força, na arrogância existe carência e na tranquilidade pode existir um furacão.


Nada é de fato como vemos, portanto sejamos mais humildes de nos aceitar, nos enxergar, nos conhecer, nos permitir, nos corrigir, nos transformar e evoluir, para então ajudar o próximo a fazer a mesma coisa. Seja também o seu próprio afeto, seja o bem para você e faça o bem para os outros. Encontre o seu diferencial, encontre a sua verdade, seja você a diferença e a transformação que todos precisamos, que o mundo precisa.


Um erro não cancela a sua vida. Um acerto não te faz ser mais do que ninguém. Mas uma mentira te apaga e uma verdade te eleva. Eleve a sua alma. Expanda os bons sentimentos. Busque sempre a verdade e o respeito, respeito por você e pelas escolhas dos outros.



Que unidas, sejamos transmissoras e receptoras de muito afeto e respeito!


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