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Customização: necessidade ou estética?

Por Bruna Dias e Alice Castro


Entramos aqui em um assunto muito gostoso de falarmos (e escrevermos), a customização das motocicletas. O tema é amplo e traz muitos aspectos a serem abordados. Não é mesmo? Por isso adiantamos que esse assunto vai longe e que teremos muitos desdobramentos, com muitas informações <3


Hoje, a primeira coisa que nos leva a querer customizar uma moto é a vontade de deixá-la com "a nossa cara." Para quem a olhar, já dizer quem somos. Pois sendo a nossa moto uma extensão de nós mesmos, ela nos identifica e espelha o nosso estilo de vida.


Então entramos na primeira discussão do nosso título: customizar por necessidade ou estética? Em entrevista para o Portal Elas Pilotam, o mecânico, customizador (e piloto de Flat Track) Chrys Miranda, conta que as primeiras customizações vieram pela necessidade mesmo.

“Todo processo de customização se deu início pela necessidade, seja ela de performance ou de locomoção, de deslocamento. Depois veio a estética, nos anos 40, 50, onde começaram a ter alguns artistas se destacando pelo mundo, que, começaram a fazer coisas de brincadeiras com os amigos para colocar nas motos. Nos anos 60 consolidou a estética em veículos em geral, na época de VonDutch, Sailor Jerry, entre vários outros artistas”, conta.


Por onde começar?


O Chrys Miranda destaca ainda que existem três principais customizações muito comuns: 1. troca de filtro de ar, 2. troca de escapamento e, 3. troca do guidão (exatamente nessa sequência).


E, segundo ele, é aí já podem começar os primeiros problemas por FALTA DE INFORMAÇÃO.

“Quando falamos de Harleys, a primeira customização sempre é de escapamento e filtro. Depois vem a parte de guidão e a estética. Se o mecânico ou customizador não seguir os manuais de serviço, é onde podem começar os problemas. Erro por falta de informação”.

Depois chegamos aos guidões. Seja para dar um visual peculiar ou para ficar mais confortável. Afinal, quando você troca o guidão de uma moto, você transforma a sua pilotagem de tal forma que vira outra moto. Uma nova moto, na verdade. Há vários tipos de guidão, e tudo tem a ver com o estilo que você mais aprecia.


Problemas a vista


Com a troca de apenas um desses três ítens, o problema pode se tornar sério. Chrys comenta que o erro mais comum que acontece é quando as pessoas não querem substituir todos os componentes necessários para a customização.


No caso do guidão, por exemplo, o grande vilão são os cabos.

“Quando fazemos uma customização, precisamos lembrar de que a moto estará em movimento e completamente exposta a chuva, calor, frio, sujeira, lama, graxa. Além disso, as motos, principalmente as mais modernas, são cheias de sensores, que funcionam como um relê de segurança. Um curto importante no guidão pode queimar o ECM (Eletronic Control Modules) primeiro, que custa cerca de R$ 12 mil”, alerta.

Estética ou necessidade?



Imagem Unsplashed

Por mais que as customizações tenham nascido para atenderem às necessidades dos motociclistas, hoje, de acordo com Miranda, o percentual entre estética e necessidade gira em, respectivamente, 60% e 40%.







O seu projeto


Definido o estilo que você deseja, e tendo pesquisado as peculiaridades de cada um, ponha suas ideias no papel. Depois, é mãos à obra com a orientação de um expert, que tenha a capacidade e em quem você confia e, principalmente, manje da viabilidade e legalidade da tarefa (leia mais abaixo)!


Então, antes de começar, o que devo fazer?

Consultamos o nosso amigo Tião Borges, que há mais de 30 anos customiza (e constrói) peças e acessórios para as suas motocicletas. Entre seus projetos, Tião montou uma FlatHead e uma PanShovel (ambas modelos de Harley-Davidson) com peças garimpadas em leilões da PRF (Polícia Rodoviária Federal). E tudo isso numa época em que as Harleys no Brasil eram consideradas raras! Para nosso portal #ElasPilotam, veja as dicas que ele nos dá:

Tião e uma de suas customs

1. Defina seu estilo;

2. Estabeleça limite de investimento, o quanto você planeja investir (porque pode ser sempre mais do que você imagina);

3. Busque peças originais que você possa ter sempre acesso para substituição da futura (defeito, desgaste ou quebra);

4. Escolha oficinas de confiança;

5. Priorize a segurança no que você quer fazer, pois a sua vida está em jogo;

6. Veja se a Lei permite as modificações propostas e o que você deverá realizar junto aos órgãos competentes para sua moto estar de acordo;

7. Lembre-se que qualquer modificação que você faça, você tem que se sentir confortável e seguro para pilotar.


Se você for começar a sua customização pelo guidão, Tião alerta que

"nem sempre o guidão mais bonito é o melhor para pilotar".

Outro aspecto importante é definir se a moto a ser customizada será para pilotar somente em áreas urbanas ou também para viajar, uma vez que na estrada há fatores a serem considerados, como a força do vento e longas distâncias, os quais poderão tornar a pilotagem mais cansativa.


E se for comprar uma moto já customizada?


Se sua opção for já adquirir uma moto pronta, já customizada, a orientação é experimentar antes, fazer um test ride.


“Nunca pegue uma moto customizada para outra pessoa sem antes verificar a sua adequabilidade. Você pode não conseguir pilota-la com segurança”, reforça Tião.

Da troca de um banco à substituição de um escapamento: O QUE DIZ A LEGISLAÇÃO?


Customizar uma moto não é assim: trocar uma ou mais peças e sair por aí, afinal, existem legislações que preveem até onde essa customização pode ir, sem interferir de forma extrema nas características do veículo.


Para entender mais sobre esse assunto, entrevistamos a advogada e motociclista Thábata Clézar, que já faz o alerta de início: o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) diz que, SIM, pode-se customizar certas coisas, desde que não comprometam a segurança.

“O artigo 98 ainda diz que, independente do tipo de customização que você vai fazer, TEM QUE INFORMAR O DETRAN ANTES, através do Ciretran da sua cidade”, explica Thabata.

Então, paga-se uma taxa e as customizações podem começar, mas com ítens de acordo com o que prevê o CTB: espelhos, guidão (sob alguns critérios), sistema de suspensão e assento (banco). Escapamento ainda envolve outras questões, como por exemplo, o ruído e emissão de gases.

“Essas alterações têm que constar no documento e que a portaria do DENATRAN permite. Lembrando que todas as peças que você for customizar têm que ter nota fiscal para apresentar na vistoria”, salienta.
Thabata é motociclista e advogada

Todas essas documentações serão analisadas e, posteriormente, essas alterações chamadas “visuais” constarão no documento.

“Assim, se for parada por algum policial, estará com todas as documentações corretas”, complementa.




Ainda ficou com dúvidas?


A Thabata deixou pra gente o link das principais legislações que envolvem as situações que citamos acima.


Links para leis/resoluções/imagens ilustrativas que auxiliem a entender melhor:


1) Resolução n. 292/2008 do CONTRAN: é específico para modificações de veículos (o que pode) https://antigo.infraestrutura.gov.br/images/Resolucoes/RESOLUCAO_CONTRAN_292.pdf


2) Portaria 64 de 2016 do DENATRAN: melhora os detalhes sobre como modificar o que é permitido (e que tem que constar no documento). Esse é o mais legal de ler, porque mostra em figuras as especificações de guidon máximas permitidas, etc.

Links para leis/resoluções/imagens ilustrativas que auxiliem a entender melhor (específico para escapamento)


1) Resolução n. 418 de 2009 do CONAMA - fala do limite de decibéis nos anexos (principalmente na tabela 6) http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=618


2) ABNT NBR 9714 – Ruído Emitido por Veículos Automotores na Condição Parada - a moto tem que estar parada,em uma aceleração constante de 5000 rotações por minuto, bem como o ruído aferido deve ser apurado mediante equipamento previamente calibrado pelo INMETRO (decibelímetro), cujo limite de aferição é de 99 decibéis, salvo disposição em contrário no manual da motocicleta ou em caso de escapamento esportivo.



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