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O motociclismo e sua influência na moda

Por Alice Castro


Estilo sempre será algo pessoal e particular, mas há alguns que são marcantes e se destacam mais que outros. E neste aspecto, seja por pioneirismo, toque pessoal ou modo de fazer, as mulheres motociclistas vêm se despontando na moda como personalidades fortes, livres e... determinadas! Afinal, quem domina uma motocicleta é capaz de qualquer coisa, não é?!


É de estilo que estamos falando, pois uma mulher que pilota traduz quem ela é, o que ela gosta e a força que tem, além de uma feminilidade diferenciada e de muita coragem perante a vida.


Nossa matéria abordará a influência do motociclismo na moda, e quem nos dará uma aula de estilo e conhecimento é a ex-modelo, estilista, professora de moda e motociclista Jacqueline de Alcântara (Jacq). Vamos conhecê-la primeiro?



Apaixonada por moda

Jacq conta que começou muito cedo na moda, quando aos 5 anos costurou seu dedo na máquina de costura da avó. Natural de Anápolis GO, foi em Brasília DF que fez os primeiros ensaios fotográficos, para depois ganhar o eixo Rio-São Paulo, Japão e Espanha como modelo profissional. E fosse em qual país que estivesse morando ou trabalhando, estar de moto sempre foi sua opção.


Na Espanha (foto ao lado), formou-se em Estilismo pelo Institut Catalã de La Moda em Barcelona. Em 1995, de volta ao Brasil, investiu na profissão de estilista ao criar sua primeira coleção (vestidos de cerimônia), apresentando em programas matinais de televisão como Clodovil Soft (Bandeirantes) e da Kátia Fonseca (Gazeta), o que lhe rendeu o trabalho de figurinista de televisão por 6 anos.

Ainda nessa época, criou sua linha de acessórios (marca Jacqueline de Alcântara), comercializados em São Paulo.



Em Brasília DF, Jacq lançou sua primeira coleção exclusivamente voltada para motociclistas no Brasília Motocapital (atual Brasília Capital Moto Week), tradicional evento motociclístico que acontece anualmente na cidade. Posteriormente, criou a marca Blouses de blusas voltadas também para motociclistas e, em 2019, lançou sua Coleção Conceitual Heroína Urbana - Bolsos que vestem, cujas peças foram desfiladas por modelos motociclistas reais na Semana de Moda do Brasília Trends (foto abaixo). Esta coleção e os desafios para colocá-la nas passarelas, será uma próxima matéria aqui, no portal #ElasPilotam. Aguardem!



Apaixonada por motos

Como motociclista, Jacq começou a sua história aos 17 anos, quando comprou sua Garelli e ganhou as asas que sempre sonhou. Em pouco tempo, trocou-a por uma Turuna e, de lá para cá, foram mais 8 motocas que cruzaram as estradas de sua vida. Mudaram as marcas e cilindradas, mas pilotar com estilo foi algo que nunca mudou.









A influência do motociclismo na moda

Agora que já apresentei nossa anfitriã no assunto “moda”, vamos então a um mergulho na história das mulheres dos séculos XIX e XX. Mas não há como iniciarmos uma abordagem retrospectiva da influência do motociclismo na forma de vestir das mulheres sem, antes, destacar o pioneirismo incontestável de Dot Robinson.


Pilota apaixonada e campeã de diversas provas motoclísticas, a visão de Dot (foto) é a de que toda mulher deveria ter classe e estar sempre arrumada ao conduzir a sua motocicleta, como uma “dama de fino trato”. Assim, a elegância tornou-se o principal lema das futuras integrantes do Motor Maids of America Inc., moto clube criado por Dot e Linda Dugeau em 1940.


Pioneiras do motociclismo, Dot e Linda venceram barreiras e preconceitos ao lutarem pelo espaço feminino em um ambiente dominado pelos homens. E desde o início, elas já se preocupavam com a imagem feminina, mesmo pilotando suas máquinas. Consequentemente, as vestimentas dessas pilotas sofreram considerável transformação devido ao vestuário da época.


As conquistas femininas sobre duas rodas

Para contextualizarmos a indumentária das pioneiras do motociclismo, precisamos falar da conquista das mulheres em direção ao sufrágio. Mas antes, cabe relembrar a conquista da liberdade feminina com o uso da bicicleta, uma geringonça criada em 1885 pelo engenheiro J.K. Starley, e cuja versão destinada às mulheres ocorreu apenas em 1889.


O uso da bicicleta por elas abriu caminhos jamais percorridos, e tal fato influenciou de forma definitiva as vestimentas da Era Vitoriana, essa marcada com a obsessão do culto à vida doméstica e graves restrições sobre as mulheres. Até então, a indumentária feminina era composta por uma farta saia com várias camadas de anáguas (volumosas e pesadas), além do uso obrigatório de espartilho apertado, o qual impedia a mobilidade.


Seja para a prática do ciclismo como esporte ou mesmo seu uso como veículo de transporte, foi introduzida uma espécie de calça larga, usada por baixo da saia, chamada bloomers, cujo uso permitia escandalosamente mostrar os respeitados tornozelos dessas valentes ciclistas. À época, houve forte resistência às novas vestimentas femininas, e não faltaram ataques por todas as partes à feminilidade e decência. “Deixe-me dizer o que eu penso do ciclismo. Eu acho que tem feito mais para emancipar as mulheres do que qualquer outra coisa no mundo. Eu fico alegre toda vez que vejo uma mulher passeando de bicicleta”. Susan B. Anthony, sufragista americana. Assim, essas ciclistas vitorianas audaciosas, conquistaram a mobilidade, a liberdade e quebraram o preconceito, deixando um legado de conquistas. Dentre esses, um guarda-roupa mais esportivo e menos restritivo, o qual seria um ponto de partida para as desbravadoras mulheres e pioneiras do motociclismo da década de 1940, as históricas Motor Maids.


A respeito, temos pouca referência teórica sobre a indumentária dessas mulheres motociclistas. O que podemos observar são as imagens do livro The American Motorcycle Girls 1900 - 1950 (foto), uma obra de arte fotográfica com ricos registros das primeiras mulheres no motociclismo. Nele, vemos charmosas mulheres pilotos em suas roupas elegantes e adereços, incluindo lenços esvoaçantes, boinas ou chapéus, colares de pérolas, sapatos boneca e os tradicionais botines da época. A antiga bloomer dá espaço à calça estilo montaria, mas ainda era possível vê-las com saiotes até então característicos.




De lá pra cá, a mulher vem assumindo a dianteira do guidão com mais frequência. Segundo as estatísticas recentes no Brasil, o número de carteiras de motociclistas emitidas para as mulheres vem excedendo às destinadas aos homens.


A Moda e o Motociclismo Feminino na atualidade


Mais do que nunca, a demanda por produtos femininos voltados para esse grupo que vem crescendo proporcionalmente às novas habilitações. Empresárias e empresários do ramo, acostumados com a venda de produtos ao público masculino, descobriram essa nova demanda poderosa. Por se tratar de público exigente, passaram a se preocupar a agregar valor (design) ao vestuário da motociclista, o qual a princípio só atendia às necessidades funcionais.


Estilistas como Chanel, Givenchy, Dior, dentre outros, criaram coleções inspiradas numa pegada Glamour Rock ou Punk Rock Style as quais combinam perfeitamente com o estilo biker girl. Mas ainda assim, falta-nos muito no mercado da moda, notadamente de produtos específicos para comporem o vestuário das mulheres motociclistas.


A experiência conta! O que dá para usar e o que não dá?!

Com sua vivência e experiência de vida em duas rodas, a estilista Jacq conta que sempre focou na segurança durante a pilotagem, no uso de roupas práticas e confortáveis, as quais não interferissem no manuseio e condução da motocicleta, e em bons equipamentos.


“Tenho histórias desagradáveis e até divertidas, em situações nas quais a minha roupa e acessórios não eram apropriados nem para pilotar e nem para a motocicleta que eu pilotava. Por exemplo, usando calça boca de sino (ou as do do tipo flare), quando precisava colocar o pé no chão a barra da calça prendia no pedal; em outra ocasião, o salto tipo anabela da minha bota não encaixava no pedal, tornando praticamente impossível passar as marchas. Por não ser seguro pilotar com essas peças, voltei para casa e troquei todo o meu look bafônico. Socorro!”

Por isso, Jacq nos recomenda buscar roupas que sejam práticas e confortáveis, porém com muito estilo.

“Dou preferência para roupas com tecidos mais encorpados, com peças bem perto do corpo, jaquetas de couro ou de cordura para o verão. Primo por botas de cano alto, saltos de preferência os quadrados ou de bloco, por serem arrojados e mais estáveis, tanto nos momentos de paradas como no de manobras para estacionamento da motoca.”



Ela conta sempre ter usado saltos: “pensa na cena, uma menina de 17 anos de sapato de salto alto, pilotando uma Garelli para ir trabalhar arrumadinha na loja Honda Way da sua cidade?! Imaginou? Então, desse jeitinho!”



Crie o seu próprio estilo

Cada uma de nós é livre para nos vestirmos da maneira que quisermos, que nos convier e que nos faça sentir bem e felizes. Todos os estilos são bem-vindos, desde que o fator segurança seja observado e cuidado.

Para criarmos um estilo próprio, tendo como ponto de partida a segurança, nossa amiga estilista recomenda escolhermos modelos confortáveis, práticos e... (por quê não?) coloridos!

“Na maioria das vezes, estamos sempre com peças escuras, como o eterno e lindo preto, os tons de marrons ou cinzas, ou um azul marinho - mesmo porque, são poucas as opções ofertadas no comércio. Assim, permitam-se usar cores vibrantes e chamativas para enfrentar um trânsito urbano”.

Realmente, faz muito sentido, pois usando cores vivas, as motociclistas serão notadas pelos demais condutores (bom para a segurança) e admiradas (cores refletem a ousadia e alegria de quem as usam). Por último, Jacq nos lembra para evitarmos os shorts ou bermudas:

“definitivamente essas peças não combinam com moto e não são nada seguras, além de não protegerem dos insetos e pedrinhas que se projetam do asfalto no nosso corpo. Mas, vamos combinar, é bonito ver uma mulher com um pernão e umas belas botas pilotando sua própria moto, não é?!”

Atualmente, entre as aulas de desenho de moda, assessorias e mentorias para confecção, Jacq segue desenvolvendo novas coleções e criando moda feminina com estilo, notadamente para aquelas que curtem andar de moto, pilotando ou na garupa.


Quem desejar saber mais sobre o assunto ou uma assessoria personalizada da nossa amiga estilista e motociclista, é só contatar a Jacqueline de Alcântara pelos seus canais de comunicação e redes sociais:


Jacqueline de Alcântara Fashion designer Prof. Desenho de Moda

whatsapp 61-98265-6578


E você, conta pra gente: "Como você gosta de se vestir na hora de sair de moto?"

✌️

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