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Era pra eu estar lá, mas não estava: uma crônica

Imagens: as fotos publicadas nesse texto foram enviadas através de um grupo de mensagens entre as mulheres que participaram do "Papo com Elas", durante o Festival Duas Rodas. Extra obrigada ao Carlos Bodo, que fez alguns cliques das mulheres na pista de Interlagos.


"Era pra eu estar lá. Mas eu não estava"

F.O.M.O é o acrónimo para a expressão em inglês Fear Of Missing Out, que, em português, pode se traduzir para algo do tipo "medo de ficar de fora". Ciente da gíria, nunca tinha realmente sentido o que ela significava, até o dia que um cisto no meu ovário resolveu ficar irritado enquanto eu esperava a hora de embarcar para o Brasil no aeroporto de Fort Lauderdale, na Flórida. Esse seria o terceiro e último vôo da minha viagem rumo à Campinas, no interior de SP, depois de quase dois anos sem ver minha família e meus amigos.


Por causa da dor e das possíveis complicações, acabei não viajando. E fui tomada por uma sensação de F.O.M.O quase insuportável. Ao mesmo tempo que eu queria evitar qualquer interação com meus eletrônicos, não conseguia desgrudar do telefone celular. Pois era através do aparelhinho que acompanhava tudo que estava na agenda: o OnTrack, o Build Train Race, a Amably viajando pelo Brasil, aquele final de semana que passaria com os meus pais na praia, o encontro das The Litas Campinas em comemoração ao aniversário do branch, o café das amigas, e o Festival Duas Rodas, que teve uma ação linda do #ElasPilotam junto com a Pirelli.


Sinto que as quatro semanas subsequentes ao vôo se arrastaram. Não vou negar que eu fiquei muito triste. Mas preciso ser sincera: a sensação de F.O.M.O não durou muito. Eu não estava fisicamente, mas não perdi os acontecimentos.


Por exemplo. Do sofá da minha sala, fui acompanhando a chegada das meninas cadastradas pelo movimento ElasPilotam no Festival Duas Rodas.

"Já estou aqui"
"Chegando no Portão"
"Não vejo a hora de conhecer vocês"

E, pelo grupo de mensagens, vinham as fotos.



Enquanto isso, a Bruna (Wladyka) participava - junto com os pilotos Leandro Mello e Fred Kyrillos, de um bate papo na sala de imprensa e podcast do evento. E daqui, eu com celular, computador, laptop... tudo ao mesmo tempo. Vendo stories, lives, acessando site.



"Gente a Bruna está dando uma entrevista agora. Alguém pode ir até o ponto de encontro?" - avisava o WhatsApp.

Mais fotos chegavam no grupo. Todas cheias de sorrisos, camisetas pretas, grupos de conversa. Eu não estava lá, mas sentia o calor do asfalto em Interlagos refletido nos rostos suados misturado com cheiro de pneu queimado.



A essas horas, eu já estava a postos, assistindo o primeiro "Papo com Elas" ao vivo por duas contas do Instagram. O projeto, que nasceu da ideia de um podcast, e virou live em sua primeira temporada, tem um pouquinho do meu suor também, e algumas horas da minha dedicação semanais. Agora, o Papo se concretizava - ao vivo, e a cores - com um público de mais de 40 pessoas, e dentro do stand da gigante fabricante de pneus Pirelli em um evento super representativo para o setor duas rodas como o Festival Duas Rodas.


Deixei escapar um suspiro.


O meu "eu" individual estava bem frustrado de não estar passando calor em São Paulo; mas o meu "eu" coletivo esse não cabia em si.
Quantas vezes não me perguntei nos últimos dias se esse era um projeto viável pra uma pessoa que mora tão longe? Será que eu estava sonhando alto demais?

No entanto, assistir aquele encontro, que fora organizado tão rápido (bem no esquema, a gente abraça a oportunidade), converter e engajar as mulheres. E, ainda, uuvir, de mais de uma fonte, que era visível a diferença no público feminino do evento. Eram fatos que respondiam minhas dúvidas.


Na pauta do "Papo" mulheres na mecânica, com a Catarina Munhoz da Garazas257; saúde mental, com a Psico on the Road (Amably); empreendedorismo e empoderamento, com a Val Valério, do Atêlie Val Bordados; saúde intima feminina, com a Nahuara Moraes, relações públicas para a marca Pantys; além de vários reconhecimentos às mulheres que, de uma forma ou de outra, estão quebrando paradigmas e reescrevendo a história do motociclismo feminino no Brasil.



Ok. Depois eu desliguei as várias telas, e só fiquei na conversa do grupo, esperando mais notícias. Enquanto isso, algumas mulheres aproveitavam a oportunidade para dar um rolê inesquecível pela pista de Interlagos. Olha só algumas fotos que elas compartilharam.



Somos rede

Eu não perdi muita coisa. Não das coisas que eu queria ter acompanhando. O que eu não tive foi o toque, não comi o churrasco, não pilotei em Interlagos. Por outro lado, testemunhei amizades surgindo, negócios, trocas de telefone, e planos para o futuro que envolvem customização de motos, encontros, novas aquisições, etc.


E é isso é que o #ElasPilotam. Uma rede de encontro, de apoio, de valorização, de cuidado, de educação, de troca. Ver esse propósitos concretizados é vitória, mesmo quando do sofá em Nárnia.

A gente segue unida, porque não é sempre que dá pra estar junta.




A Gabi Hoover é jornalista brasileira,

e vive nos EUA, ao norte do estado de NY, em uma

cidadezinhaque ela chama carinhosamente de

Nárnia (porque faz muito frio), desde 2009.

É ela que cuida do material que é publicado nesse

portal, e da linha editorial do #ElasPilotam.

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